25 setembro 2007

10 de Setembro: Salamanca - Riego del Camino; 105 km

Catedral de Salamanca.


Zamora
Castelo de Castrotorafe.


Tinha chegado a Salamanca no dia anterior e a primeira coisa que fiz foi procurar o albergue para saber se podia aí ficar.

O albergue, que fica junto à catedral, está à responsabilidade de um casal de franceses, os quais foram muito simpáticos comigo, principalmente quando souberam que eu falava a língua deles. No entanto, regras rígidas a cumprir: entrada até às 22.00 e saída de manhã até às 8.00.

Ainda tive tempo para dar uma pequena volta pelo centro histórico de Salamanca, uma cidade não muito grande, talvez como Braga, mas muito bonita. Um jantar leve e de volta para o albergue.

Apesar das boas condições do albergue, dormi mal. Creio que só havia mais um peregrino, nessa noite, além do casal francês.

Saí antes das 8.00 e encontrei a cidade práticamente deserta, com tudo fechado. Parei numa bomba de gasolina à saída da cidade, para comprar algo para comer e arranquei para a primeira etapa.

Já tinha visto na véspera que ia ser uma etapa predominantemente plana. Para quem vive numa zona verde e montanhosa, a paisagem deste primeiro dia foi o oposto total: longas planícies amarelas a perder de vista, ligeiramente onduladas. A linha do horizonte era sempre igual, acentuando a solidão da paisagem. Felizmente, a manhã estava fresca, porque nem quero imaginar o que seria atravessar aquela estepe com calor.

Devido às obras duma auto-estrada e à deficiente sinalização, enganei-me por duas vezes, mas logo corriji e encontrei o caminho.

Paragem em El Cubo de la Tierra del Vino para reabastecer água e cheguei a Zamora antes das 14.00. Mais uma cidade encantadora; fotografias do Rio Douro e da catedral e deixei a cidade, parando para almoçar em Roales del Pan.

Entretanto, o tempo aquecera e parei cerca de uma hora no largo do pueblo. A tarde prometia a continuação do que fora a manhã. Apenas se avistavam algumas azinheiras espaçadas nos campos, mas sombra junto ao caminho era coisa que não existia.

Até Montamarta, o caminho é quase como uma recta interminável; são doze quilómetros sem mais nada a não ser o amarelo dos campos.

Devido ao calor, tive que racionar a água até Montamarta e aí parei num bar para comprar água para o resto da jornada, pois faltavam apenas dezasseis quilómetros para chegar a Riego.

Passei nas ruínas de Castrotorafe, uma povoação abandonada no século XVI e de que apenas restam algumas paredes de casas, assim como um bocado do castelo. Foi esquisita a sensação de estar sózinho naquele local abandonado.

Cheguei a Riego del Camino e logo à entrada do pueblo, no Bar Pepe, estava um peregrino que me indicou onde ficava o albergue. Como a porta estava fechada, pois não havia mais peregrinos, perguntei onde podia encontrar o responsável. Indicaram-me a casa da "alcaldesa", de seu nome Dorita, que era quem geria o albergue. Lá fui bater à porta e a senhora acompanhou-me ao local, uma casa com algumas camaratas, cozinha e duche quente, ou seja, o necessário para um peregrino repousar. Disse-lhe que tinha passado por dois peregrinos pouco antes, pelo que também deveriam estar a chegar. A "alcaldesa" foi tão simpática que até se prontificou a fazer-nos arroz doce para o pequeno-almoço do dia seguinte.

Nessa noite éramos quatro no albergue e fomos beber umas cervejas e jantar ao Bar Pepe, o único do pueblo. Os outros companheiros caminhantes eram de Madrid, de Cádiz e um era francês.

Depois de muita conversa e alguns copos, rumámos ao albergue, atravessando as ruas desertas e sem iluminação daquela pequena aldeia castelhana.


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