29 setembro 2007

14 de Setembro: Ourense - Santiago de Compostela; 105 km

Caminho entre Ourense... ... e Santiago.
Bosque de carvalhos.
Chegada a Santiago. Esta quinta etapa estava prevista para acabar em a Ponte Ulla, mas afinal foi mesmo a última, embora com muito sacrifício na parte final.
Saída de Ourense com tempo fresco e céu nublado. Como a cidade de Ourense fica no vale do rio Minho, a etapa começava evidentemente a subir. Os primeiros cinco quilómetros são duríssimos, com uma inclinação muito acentuada, embora o piso seja um empedrado alternando com asfalto. A certa altura, as lajes de granito dão lugar a uma pista em terra e a inclinação vai-se suavizando.Como é costume em terras galegas, o caminho é um constante sobe e desce.
Mais adiante, a vegetação e as muitas zonas de pedra tornavam a progressão muito difícil para a bicicleta e tive que optar pela estrada. Estrada que vai subindo gradualmente até Castro de Dozón, já perto dos 900 metros de altitude, onde retomei o caminho e iniciei a descida, que apesar de ser por uma pista larga, tem muita gravilha.
Toda esta zona tem bastantes bosques de carvalhos, o que ajuda a superar as agruras do caminho. Por vezes parecia-me que apenas faltavam aparecer druidas, elfos e duendes, a par com música celta.
Ao chegar à estação de Lalín perdi-me e foi um galego bastante prestável que me reconduziu ao caminho.
Depois de mais um bocado a subir, parei em Silleda para almoçar, mas não consegui arranjar melhor que um bocadillo e uma cerveja. O tempo tinha aquecido e retomei o andamento. Ao passar na localidade de Bandeira, reparei numa pulpería e parei imediatamente. Um prato de polvo, pão e duas cervejas foram o combustível exacto para o resto da etapa.
O caminho continuava entre bosques, muito bonito, e assim cheguei a Ponte Ulla, depois de uma descida rapidíssima. Aqui, o Caminho Sanabrés atinge a sua cota mais baixa, a menos de cem metros de altitude. Sabendo que em Ponte Ulla não há albergue de peregrinos, tinha lido que alugavam quartos, pelo que entrei num bar para beber uma Kas de limão e perguntar por alojamento. O rapaz que me atendeu, muito simpático, informou-me que apenas poderia dormir numa antiga escola, pois não havia mais nada no pueblo.
Os mais de oitenta quilómetros de subidas e descidas desde Ourense tinham-me desgastado bastante, mas como ainda eram 17.00 resolvi rumar a Santiago.
Claro que para sair de Ponte Ulla é preciso subir, pelo que optei por começar por estrada, com menos inclinação do que o caminho. A N-525 tinha muito trânsito àquela hora e depois de passar uma zona em obras, retomei o caminho.
Eram precisamente 19.25 quando entrei na Praza do Obradoiro, ainda a tempo de ir selar e credencial e obter a respectiva Compostela.
Sendo o meu quinto Caminho de Santiago, este foi o que mais me marcou, por ter sido feito sempre só e atravessando zonas bastante agrestes e despovoadas.
Todos os riscos que corri e todas as dificuldades que enfentei foram amplamente compensadas pela beleza do caminho e pelo convívio com os poucos peregrinos que fui encontrando ao longo do caminho.

27 setembro 2007

13 de Setembro: A Gudiña - Ourense; 90 km

Barragem de As Portas

Chegada a Ourense Em A Gudiña o caminho apresenta duas opções: a primeira continua a acompanhar a N-525, passando por Verín e Xinzo de Limia; a segunda é bastante mais interessante, embora mais difícil, passando por Laza e Xunqueira de Ambía, com uma paisagem de cortar a respiração. Foi esta segunda opção que eu segui.
Novamente uma manhã fria e desta vez sem sol. Os primeiros vinte quilómetros são feitos sempre acima dos mil metros de altitude, em plena serra, passando apenas por quatro aldeias com meia dúzia de casas. À direita do caminho, lá em baixo, vê-se a barragem de As Portas e mais adiante as montanhas de Manzaneda; à esquerda avista-se o vale por onde passa a N-525.
O caminho alterna trilhos com estreitas estradas asfaltadas, cruzando por vezes a linha de caminho de ferro.
Antes de começar a descida para Campobecerros, encontrei dois veados, que rápidamente desapareceram. Aqui, a sensação de isolamento é muito grande, pois só se avistam montanhas completamente desabitadas.
A descida não é fácil, porque o piso é de terra e xisto, com pedras afiadas, mesmo próprias para cortar um pneu. Com cuidados redobrados lá cheguei a Campobecerros, que parecia uma localidade fantasma, sem ninguém à vista.
Depois de mais duas pequenas subidas, o caminho desce bruscamente para Laza. Embora seja quase sempre em estradão, há muita pedra solta e um precipício assustador do lado direito. Um despiste dava direito a rolar algumas centenas de metros quase a pique.
A seguir vinha aquela que o guia considerava a subida mais difícil do caminho: a Albergueria. À saída de Laza segue-se por uma pequena estrada, junto ao rio Tâmega, que vai subindo suavemente até Tamicelas. Entra-se então no monte e depois são cinco quilómetros com um desnível de quinhentos metros. Na sua maioria, a subida não é ciclável e não tem árvores, à excepção de pequenos pinheiros e arbustos rasteiros. Ou seja, não há sombra e entretanto o tempo tinha aquecido. A subida foi um martírio, com os mosquitos a ajudar à festa, não me dando descanso.
Já quase no final da subida, há um carvalho enorme, à sombra do qual eu parei para recuperar forças. Escusado será dizer que tive que gerir devidamente a água, para durar até ao topo do monte.
Na pequena aldeia de Albergueria há um bar, que infelizmente estava fechado. Estava lá um peregrino australiano, com quem parei a falar um bocado. Tinha tirado umas férias de dois anos e meio, andava a vaguear pela Europa e falava um bocadinho de português, por já ter estado no Brasil.
Segui o meu caminho, iniciando a descida para Xunqueira de Ambía, parando em Vilar do Barrio para repor água. Passei por uns peregrinos franceses, com quem estive uns momentos a falar sobre o caminho. Depois de uma zona plana, segue-se uma parte com contínuas subidas e descidas por um trilho difícil em que a progressão se torna muito lenta.
Almocei muito bem em Xunqueira e continuei o caminho em direcção a Ourense. Esta parte é pouco interessante, sendo quase sempre a descer e por estrada.
Cheguei a Ourense por volta das 17.00. Nesse dia não estava com grande vontade de ficar em albergues, por isso procurei um hostal barato, onde pudesse passar uma noite mais sossegada, sem ouvir ninguém a ressonar.
Dei uma pequena volta pelo centro da cidade, jantei e fui dormir.

12 de Setembro: Mombuey - A Gudiña; 86 km

Puebla de Sanabria
Padornelo
Ponte sobre o rio Pedro, antes de Lubián.
Santuário de la Tuiza Esta terceira etapa tinha montanha a sério: duas subidas a cerca de 1300 metros de altitude, o Padornelo e a Canda.
Quando saí de Mombuey estava bastante frio, pelo que acabei por ter que vestir o impermeável. Como o caminho continuava com vegetação muito densa, pedras e buracos, voltei à estrada, a N-525, práticamente sem trânsito por causa da auto-estrada.
Na bonita localidade de Puebla de Sanabria, parei para comer qualquer coisa e preparar a primeira subida do dia. Aqui abandona-se o rio Tera e passa-se a acompanhar o curso do rio Castro durante alguns quilómetros. O caminho segue junto ao rio, entre arbustos por vezes muito fechados e a impedir um avanço rápido.
Em Requejo fiz como aconselhava o guia e iniciei a subida ao Padornelo por estrada, pois o caminho não estava nas melhores condições para bicicletas. São dez quilómetros, que acabaram por ser mais fáceis do que eu esperava.
Em Aciberos retomei o caminho. Estava a menos de cinco quilómetros de Lubián, quase sempre a descer, mas pareceram o dobro. O caminho era duríssimo, quase todo com piso muito irregular, com pedra e raízes, o que me obrigou a desmontar inúmeras vezes. Ir sózinho não permite correr tantos riscos nas descidas. Para compensar, a zona é muito bonita; o caminho segue entre bosques de carvalhos, com muita sombra para atenuar o calor.
Finalmente cheguei a Lubián, terra de lobos, embora não tenha visto nenhum. Almocei no bar do pueblo; a manhã tinha sido puxadinha, cerca de sessenta quilómetros, pelo que comi demais, com umas "cañas" geladinhas a acompanhar.
Como estava bastante calor, resolvi parar no Santuário de la Tuiza para descansar e esperar que a temperatura baixasse um pouco, pois tinha uma subida de respeito pela frente. Estive lá cerca de duas horas, à sombra de um carvalho, até que, por volta das 17.00, resolvi fazer-me ao caminho.
Em Lubián tinham-me aconselhado a subir a Canda por estrada, porque o caminho estava muito fechado e quase intransitável, o que corroborava o que o guia dizia.
A conjugação de calor e asfalto nunca deu bom resultado, o que, a acrescentar a uma bicicleta carregada e com pneus de monte, tornou a subida muito pouco divertida.
Mas lá subi e pouco antes do túnel que faz a transição de Castilla y León para a Galiza passei por um ciclista que também fazia o caminho só, numa bicicleta híbrida.
A descida por estrada é rapidíssima e o calor passou num instante. Antes de chegar a A Gudiña, havia ainda que transpor o alto de O Cañizo, a 1085 metros de altitude.
Cheguei por volta das 19.00 e no albergue já se encontravam os dois ciclistas de Bilbao, que tinham feito a maior parte da etapa por estrada. O albergue de A Gudiña é excelente e esta foi a noite em que encontrei mais peregrinos: os dois de Bilbao, o ciclista solitário de A Coruña, um casal de ciclistas alemães, mais duas alemãs e um espanhol.
Depois de um duche em condições, fomos-nos abastecer ao supermercado e comemos no albergue. Mais uma vez, a conversa durou até acabar a cerveja, mas também já passava das 22.00 e eram horas de apagar as luzes.

25 setembro 2007

11 de Setembro: Riego del Camino - Mombuey; 91 km

Ponte sobre o rio Esla.
Igreja de Santa Marta de Tera. Tartaruga junto ao rio Tera.

Igreja de Mombuey. Saí de Riego del Camino numa manhã fresca e pensei ir tomar o pequeno-almoço a Granja de Moreruela, seis quilómetros mais adiante.
Mas encontrei tudo fechado e tive que seguir caminho. Nesta localidade, a Via da Prata bifurca-se, sendo aqui que começa verdadeiramente o Caminho Sanabrés. A paisagem vai começando a mudar, já se notam algumas colinas e mais vegetação; só a sinalização do caminho é que continua a apresentar algumas lacunas. O piso é bastante duro, com muita pedra solta.
Atravessei o rio Esla e segui por estrada em direcção a Faramontanos de Tábara, onde reabasteci de água. Continuei por estrada até Tábara, onde finalmente encontrei um café para tomar o pequeno-almoço; foram 32 quilómetros em jejum.
A partir de Tábara, o caminho muda um pouco: além de já se avistarem as montanhas de Sanábria, surgem as primeiras subidas e o caminho atravessa uma zona despovoada, tornando-se bastante solitário. Foi nesta zona que uma raposa atravessou o caminho mesmo diante de mim. Apesar de algum receio pelo isolamento, gostei bastante deste percurso.
Pouco antes de Santa Croya de Tera, encontrei dois ciclistas que também faziam o caminho; eram de Bilbao e tinham começado em Sevilha. Parei em Santa Marta de Tera, para visitar a igreja românica onde está a estátua de Santiago peregrino.
Daqui para a frente, o caminho segue o curso do rio Tera, tornando-se bastante mais agradável, com zonas de choupos e consequentemente com sombra. Encontrei uma tartaruga em pleno caminho, conforme podem ver na fotografia anexa.
Parei para almoçar em Olleros de Tera, no único café que encontrei. No final do almoço estava bastante calor e parei um pouco a descansar.
Segui por estrada até Rionegro del Puente, onde retomei o caminho. Faltavam apenas dez quilómetros para o fim da etapa, embora fossem em subida. No entanto, a subida era constante mas suave; pior era o mau estado do piso, com vegetação densa a tapar os muitos buracos do caminho.
Cheguei a Mombuey por volta das 17.00 e procurei o albergue. Tinha lido no meu guia que era um simples refúgio com poucas comodidades, pelo que, quando me deram as chaves e me indicaram o local, fiquei um bocado apreensivo.
Era uma pequena casa em pedra, de um só piso, com telhado de madeira. Dispunha de uma divisão com alguns colchões e uma casa de banho, ou seja, o básico. Ainda hesitei entre ficar ali ou procurar alojamento noutro lugar, mas o espírito de peregrino fez-me ficar, e ainda bem.
Como não havia mais ninguém e ainda era cedo, instalei-me sem pressas, tomei banho e saí para beber umas cervejas e fazer tempo para o jantar. Estava numa esplanada junto à estrada, quando aparecerem os dois ciclistas de Bilbao; afinal ia ter companhia, além das aranhas. Fui levá-los ao albergue e voltei para o café. Passado algum tempo, encontrei-os junto ao supermercado do pueblo e combinámos jantar no albergue, pelo que fui fazer umas compras: pão, queijo e cerveja para o jantar; sumos, fruta e bolos para o pequeno-almoço do dia seguinte.
Comemos no albergue, conversámos até a cerveja acabar e fomos dormir. Até me consegui esquecer das muitas teias de aranha que cobriam o tecto e as paredes. No terceiro dia começavam as montanhas a sério.

10 de Setembro: Salamanca - Riego del Camino; 105 km

Catedral de Salamanca.


Zamora
Castelo de Castrotorafe.


Tinha chegado a Salamanca no dia anterior e a primeira coisa que fiz foi procurar o albergue para saber se podia aí ficar.

O albergue, que fica junto à catedral, está à responsabilidade de um casal de franceses, os quais foram muito simpáticos comigo, principalmente quando souberam que eu falava a língua deles. No entanto, regras rígidas a cumprir: entrada até às 22.00 e saída de manhã até às 8.00.

Ainda tive tempo para dar uma pequena volta pelo centro histórico de Salamanca, uma cidade não muito grande, talvez como Braga, mas muito bonita. Um jantar leve e de volta para o albergue.

Apesar das boas condições do albergue, dormi mal. Creio que só havia mais um peregrino, nessa noite, além do casal francês.

Saí antes das 8.00 e encontrei a cidade práticamente deserta, com tudo fechado. Parei numa bomba de gasolina à saída da cidade, para comprar algo para comer e arranquei para a primeira etapa.

Já tinha visto na véspera que ia ser uma etapa predominantemente plana. Para quem vive numa zona verde e montanhosa, a paisagem deste primeiro dia foi o oposto total: longas planícies amarelas a perder de vista, ligeiramente onduladas. A linha do horizonte era sempre igual, acentuando a solidão da paisagem. Felizmente, a manhã estava fresca, porque nem quero imaginar o que seria atravessar aquela estepe com calor.

Devido às obras duma auto-estrada e à deficiente sinalização, enganei-me por duas vezes, mas logo corriji e encontrei o caminho.

Paragem em El Cubo de la Tierra del Vino para reabastecer água e cheguei a Zamora antes das 14.00. Mais uma cidade encantadora; fotografias do Rio Douro e da catedral e deixei a cidade, parando para almoçar em Roales del Pan.

Entretanto, o tempo aquecera e parei cerca de uma hora no largo do pueblo. A tarde prometia a continuação do que fora a manhã. Apenas se avistavam algumas azinheiras espaçadas nos campos, mas sombra junto ao caminho era coisa que não existia.

Até Montamarta, o caminho é quase como uma recta interminável; são doze quilómetros sem mais nada a não ser o amarelo dos campos.

Devido ao calor, tive que racionar a água até Montamarta e aí parei num bar para comprar água para o resto da jornada, pois faltavam apenas dezasseis quilómetros para chegar a Riego.

Passei nas ruínas de Castrotorafe, uma povoação abandonada no século XVI e de que apenas restam algumas paredes de casas, assim como um bocado do castelo. Foi esquisita a sensação de estar sózinho naquele local abandonado.

Cheguei a Riego del Camino e logo à entrada do pueblo, no Bar Pepe, estava um peregrino que me indicou onde ficava o albergue. Como a porta estava fechada, pois não havia mais peregrinos, perguntei onde podia encontrar o responsável. Indicaram-me a casa da "alcaldesa", de seu nome Dorita, que era quem geria o albergue. Lá fui bater à porta e a senhora acompanhou-me ao local, uma casa com algumas camaratas, cozinha e duche quente, ou seja, o necessário para um peregrino repousar. Disse-lhe que tinha passado por dois peregrinos pouco antes, pelo que também deveriam estar a chegar. A "alcaldesa" foi tão simpática que até se prontificou a fazer-nos arroz doce para o pequeno-almoço do dia seguinte.

Nessa noite éramos quatro no albergue e fomos beber umas cervejas e jantar ao Bar Pepe, o único do pueblo. Os outros companheiros caminhantes eram de Madrid, de Cádiz e um era francês.

Depois de muita conversa e alguns copos, rumámos ao albergue, atravessando as ruas desertas e sem iluminação daquela pequena aldeia castelhana.


21 setembro 2007

Caminho Sanabrés da Via da Prata

Os caminhos de Santiago são um vírus que, depois de se introduzir no corpo, nunca mais o abandona. Pelo menos comigo é assim.
Quando acabei o meu caminho francês, já tinha em mente o desafio seguinte. Assim, comecei a preparar o caminho que vou de seguida relatar.
A Via da Prata é um caminho antigo que começa em Sevilha e vai até Astorga, onde se une ao Caminho Francês rumo a Santiago. No entanto, um pouco a norte de Zamora, existem algumas variantes, que permitem chegar a Santiago sem coincidir com o Caminho Francês.
Uma das variantes é conhecida como Caminho Sanabrés, pois atravessa as terras de Sanabria, na província de Zamora, entrando na Galiza pela província de Ourense. A separação faz-se em Granja de Moreruela, uma pequena localidade castelhana a norte de Zamora.
Foi este o caminho que eu decidi fazer. Para tal, além de muita informação recolhida na Internet, comprei um guia - Ruta del Camino Fonseca - que se viria a revelar de extrema utilidade, pois evitou que me perdesse durante os quase 500 quilómetros que percorri.
Este caminho, sendo pouco transitado, não está tão bem sinalizado como outros caminhos de Santiago, nomeadamente na parte de Castilla y León. Há cruzamentos sem qualquer sinalização ou com marcas semi-apagadas ou pouco visíveis.
Além disso, é um caminho extremamente solitário. Não só por ser pouco transitado, mas também porque as distâncias entre localidades são por vezes de muitos quilómetros. Como eu empreendi esta aventura sózinho, o sentimento de solidão acentuava-se nas zonas mais despovoadas, embora tivesse sido uma experiência fabulosa que eu não hesitaria em repetir.
É claro que corri alguns riscos, já que passei horas sem ver gente ou casas, mas a sensação de isolamento, de estar entregue a mim e à minha bicicleta, compensou os riscos e a dureza do caminho.
O caminho é bastante duro. Como tem pouco trânsito, apresenta zonas muito fechadas pela vegetação e o piso nem sempre é propício a pedalar. Houve várias subidas em que tive que optar pela estrada e em algumas descidas tive que carregar a bicicleta, por causa dos buracos e das pedras.
Como só dispunha de uma semana livre, optei por começar o caminho em Salamanca, tencionando cumpri-lo em seis dias. Acabaria por fazê-lo em cinco, alongando a última etapa, pelos motivos que adiante explicarei.