


Mal saí da pousada, lamentei o facto de só ter trazido calções curtos e luvas sem dedos. Não estariam mais de 5 graus e a chuva aumentava o desconforto. Fui-me mentalizando para o que me esperava neste primeiro dia: frio e lama.
Pequeno-almoço tomado, aguardava uma aberta na chuva para começar o meu caminho, quando apareceram três ciclistas a abrigar-se na entrada da pousada. Como a chuva não dava sinais de passar, fomos conversando sobre o que nos tinha levado ali. Eles eram catalães, de Barcelona e também pretendiam fazer o Caminho Francês, mas em nove dias. Estavam bastante melhor equipados do que eu, já que traziam perneiras, camisolas térmicas e luvas com dedos.
Entretanto, a chuva abrandou e eles perguntaram-me se arrancava com eles. Lá fui e acabámos por fazer o caminho juntos até ao fim. Aqui ficam os respectivos nomes: Jacky, Jose Luis e Josep Lluis.
Ao fim dos primeiros metros, já me encontrava coberto de lama. A chuva não deu tréguas durante a manhã e o frio só se foi atenuando à medida que a altitude baixava. Dessa manhã recordo a descida a seguir ao Alto de Erro, com muita pedra, lama, escorregadia e perigosa. Houve zonas em que tivemos que desmontar das bikes e empurrá-las. Recordo também um single-track, junto a um rio, simplesmente fabuloso. Passámos pelo sítio em que se presta homenagem a um peregrino japonês que morreu no caminho. Estava lá um peregrino francês, com barbas brancas e já de idade avançada, que vinha a caminhar desde a sua casa; ia fazer 2000 km até Santiago e depois regressava também a pé.
Chegámos a Pamplona cobertos de lama e resolvemos parar para almoçar. Um bocadillo e umas cervejas foram o suficiente para reanimar, já que após Pamplona tínhamos a subida mais difícil do dia.
Passámos numa estação de serviço para lavar as bikes, que bem precisavam, e deixámos a cidade de Pamplona para trás. O tempo tinha melhorado. Já não chovia e a temperatura estava mais amena.
O Alto del Perdón estava envolto por nuvens quando iniciamos a subida. Posso dizer que não achei que fosse tão difícil como se dizia; aliás, o que me assustava era a descida, pois recomendavam aos ciclistas para descerem pela estrada.
Chegados ao alto, tirámos algumas fotografias junto ao monumento aos peregrinos. Como a chuva tinha parado, resolvemos arriscar a descida pelo caminho, apesar das recomendações.
Aquilo parecia um rio de pedras. Toda a descida estava coberta por um tapete de pedras soltas, que tornava o controlo da bike muito difícil. Contudo, apesar do massacre que foi para o corpo e para as máquinas, ninguém caiu e chegámos a salvo a Puente la Reina. Com outras condições atmosféricas, seguramente que poderíamos ter feito mais quilómetros, mas para primeiro dia não estava mal.
Destaco nesta etapa a localidade de Obanos, um pueblo pequeno mas muito bonito.
Instalámo-nos no albergue de peregrinos, com sítio para guardar bicicletas e com condições razoáveis.
Nesse dia, ao jantar, optámos pelo menú do peregrino: sopa de grão-de-bico, frango, sobremesa, pão e vinho.
No fim de jantar recolhemos ao albergue já a pensar no dia seguinte.
1 comentário:
...hum...tintol...estou a ver...mas a aventura promete
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