Esta etapa tinha tudo para ser uma das mais fáceis da travessia: 109 quilómetros com um acumulado de apenas 950 metros. Mas condições atmosféricas adversas transformaram a manhã num pesadelo.
Saímos de Monesterio avisados que poderia chover, apesar do sol estar a brilhar quando arrancámos. Os primeiros vinte quilómetros eram em ligeira descida, sem dificuldade aparente. O céu escureceu e começou a chover e a trovejar. Todo o caminho atravessava campos sem árvores nem qualquer tipo de abrigo. Os relâmpagos caíam à nossa volta e o ponto mais elevado éramos nós nas nossas bicicletas. Rápidamente o caminho foi-se tornando num riacho e começámos a ter dificuldade em progredir. Já perto de Fuente de Cantos fomos obrigados a parar porque o caminho estava intransitável, com água pelos joelhos e uma corrente fortíssima. Subimos para uma pequena elevação, mas a água também ia subindo e começámos a ver que tínhamos de sair dali o mais depressa possível. Tentámos várias hipóteses, mas a água tem uma força incrível e começámos a recear ser arrastados pela corrente, pois a água já nos chegava à cintura. Até que, numa das tentativas, o Josep Lluis ia à frente e perdeu o pé e foi arrastado junto com a bicicleta. Conseguiu agarrar-se a uns ramos mas teve de largar a bike, que foi com a enxurrada. Por sorte, uns 150 metros mais à frente, a bicicleta foi perdendo velocidade e conseguimos recuperá-la, enquanto o nosso amigo saía da água ainda a pensar o que lhe tinha acontecido. Simplesmente inacreditável.
Entretanto a chuva começou a abrandar e acabámos por descobrir uma saída, atravessando uma zona mais estreita com água por cima dos joelhos e as bikes às costas. Atravessámos um campo agrícola e atingimos a estrada, cobertos de lama, molhados da cabeça aos pés, mas aliviados por termos saído incólumes daquela situação.
Depois disto continuámos por estrada até Villafranca de los Barros, onde almoçámos. O tempo tinha melhorado e, após o almoço, retomámos o caminho: longas rectas entre vinhas até chegar a Mérida. Mas o dia não acabaria sem mais um percalço. Numa parte junto à estrada, um arame com um troço de madeira prendeu-se na minha roda dianteira, a bike estacou de imediato e eu saí de cabeça. Na queda ainda espetei o punho do guiador na barriga, ficando com o mesmo bem marcado, além duma negra enorme.
Em Mérida tivemos de lavar as máquinas devido ao lastimável estado em que se encontravam.
Antes da tempestade: um caminho que parecia fácil.
Caminho plano entre vinhas.