21 outubro 2010

25 de Setembro: Lalín - Santiago de Compostela, 52 km

Para esta última etapa deixámos apenas 52 quilómetros, que foram feitos sem grandes dificuldades. Neste dia passámos por alguns grupos de ciclistas. O principal obstáculo desta etapa é a subida após Ponte Ulla, embora todo o trajecto seja um constante sobe e desce, o que é habitual na Galiza. Não houve grandes novidades, o tempo estava fresco e encoberto, a ameaçar chuva que não chegou a cair. Chegámos a Santiago antes do almoço e logo nos deparámos com uma fila enorme para obter a Compostela. Demorámos uma hora e meia na fila e depois entrámos na Catedral pela Porta Santa, que só abre em Ano Jacobeu.
Mais um caminho completo, dez dias e mil quilómetros desde Sevilha até Santiago de Compostela.

 Pormenor do caminho.
Catedral de Santiago de Compostela.

24 de Setembro: Xunqueira de Ambia - Lalín, 84 km

Começámos o dia com chuva, que durou até chegarmos a Ourense. Depois de selar a credencial e atravessar o rio Minho começava uma subida muito difícil, com uma inclinação acentuada e constante durante cerca de cinco quilómetros.
Parámos em Cea para comprar o famoso Pan de Cea e depois de tirar umas fotografias no mosteiro de Oseira começámos uma subida dificílima, em que tivemos que desmontar e empurrara as bikes durante grande parte do tempo.
Parámos em Castro Dozon para comer o pão que tínhamos comprado, juntamente com queijo e chouriço e umas canecas de cerveja. Chegámos a Lalín a meio da tarde e fomos recuperar do esforço dispendido num excelente hotel com spa. Afinal já só faltava um dia para chegar a Santiago.
 Cea

Monasterio de Oseira

23 de Setembro: Puebla de Sanabria - Xunqueira de Ambia, 124 km

Esta era a etapa-raínha da nossa Via da Prata: 124 quilómetros e 2730 metros de acumulado, com três portos de montanha para ultrapassar.
Saímos ainda de noite, já que tínhamos algumas dúvidas sobre se conseguiríamos cumprir o planeado. Estava frio e pedalar de noite sem luz é arriscado, até porque o caminho era numa zona com bastante vegetação junto a um rio.
Começámos a subida aos 1360 metros de altitude do porto de Padornelo pelo caminho, mas tivemos que a acabar pela estrada. O caminho era impraticável para bicicletas e uma série de quedas, felizmente sem consequências, obrigaram-nos a alterar os planos. Foi uma pena, porque o caminho atravessa uma zona muito bonita e onde avistámos veados e um javali.
Depois da descida até Lubián começava nova subida, agora ao porto de A Canda, onde começa a Galiza. Fomos até A Gudiña por estrada e entrámos então numa das partes mais bonitas da variante Sanabresa da Via da Prata. Nesse dia não fizemos a paragem para almoçar, mas fomos comendo frutos secos e fruta durante todo o dia. Quando chegámos a Laza e fomos carimbar a credencial, fomos aconselhados a fazer a subida até Albergueria pela estrada. São quinhentos metros de desnível muito duros e, na parte final, começou a chover.
Chegámos a Xunqueira de Ambia quase sem forças mas fomos amplamente recompensados na casa de turismo rural onde ficamos instalados e em que fomos tratados como príncipes - Casa do Souto.
 No cimo da montanha.
Preparação duma fotografia.

22 de Setembro: Tábara - Puebla de Sanabria, 94 km

Manhã fria e sol por vezes encoberto. Fizemos a primeira paragem ao quilómetro 23, em Santa Marta de Tera, para tomar um segundo pequeno-almoço: um bocadillo e uma cola. A etapa tinha algumas subidas curtas mas puxadas. Pelo caminho passámos por uns campos em que estavam a colher maçãs e, muito amávelmente, ofereceram-nos maçãs e uvas. Curiosamente, pouco tempo antes tínhamos comentado que havia que comprar fruta para este dia.
Depois dalgumas subidas durinhas parámos em Palacios de Sanabria para almoçar, deixando somente doze quilómetros para o final da etapa. Chegámos a Puebla de Sanabria às 17:00, com tempo suficiente para visitar o castelo e o museu no topo da bonita e antiga vila. Havia que repor forças, pois as dificuldades a sério iriam começar no dia seguinte.
 De manhã à saída de Tábara.
 Do alto do castelo de Puebla de Sanabria.
 Puebla de Sanabria à noite.

21 de Setembro: Salamanca - Tábara, 140 km

A partir de Salamanca começava a parte da Via da Prata que eu já conhecia por a ter feito há três anos. Inicialmente esta sexta etapa estava prevista para acabar em Zamora, apenas 67 quilómetros, mas acabámos por a esticar até Tábara.
De Salamanca a Zamora são 67 quilómetros com um acumulado de apenas 370 metros, portanto sem grandes dificuldades. Saímos com sol, mas a chuva que tinha caído no dia anterior fez com que o caminho apresentasse alguma lama, além dalgumas partes com bastante areia e regos traiçoeiros. Mesmo assim chegámos a Zamora para almoçar. Logo aí decidimos que era uma pena desperdiçar a tarde inteira sem pedalar e resolvemos continuar caminho, até para encurtar a etapa seguinte, que se previa difícil.
Assim comemos um bocadillo em Zamora e arrancámos. O caminho era essencialmente plano, exceptuando a parte final, com algumas subidas e em que os muitos quilómetros nas pernas já faziam mossa.
Chegámos a Tábara às 20:00, já com a luz do dia a fugir. Fazer 140 quilómetros de BTT com alforjas não é brincadeira e estávamos estourados. Foi comer e dormir.

 O macho a guardar o rebanho.
Monumento aos peregrinos perto de Zamora.

17 outubro 2010

20 de Setembro: Aldeanueva del Camino - Salamanca, 95 km

Neste dia fizemos batota. O grupo de ciclistas de Navarra, que tinha ficado no mesmo hotel que nós e com quem tínhamos jantado na véspera, disponibilizou-se a levar os nossos alforges até Salamanca. Assim fizemos a etapa juntos.
Saímos com tempo fresco e levámos logo com a subida de Bejar, em calçada romana e com degraus pelo meio. Seguia-se uma descida rápida e de novo subir. Após uma zona plana havia que transpor o Pico de la Dueña e os seus 1150 metros de altitude. A parte final desta subida é um single-trek com muita pedra e desnível acentuado.
Depois da descida parámos para almoçar em San Pedro de Rozados. Os 25 quilómetros finais eram fáceis, o caminho é através duma planície ondulada até chegar a Salamanca.
Recuperámos as nossas bagagens e despedimos-nos do grupo de navarros. Jantámos num restaurante em plena Plaza Mayor de Salamanca.
 Puerto de Bejar
 Entrada em Salamanca.

Plaza Mayor


19 de Setembro: Cáceres -Aldeanueva del Camino, 127 km

Uma manhã sem grande história, céu azul e percurso fácil e maioritáriamente plano. Após atravessar o Tejo, começam a aparecer algumas colinas, mas nada de difícil. Almoçámos em Galisteo e continuámos o caminho com o calor a fazer-se sentir.
Encontrámos um grupo de ciclistas de Navarra que faziam o caminho com carro de apoio e que também iam ficar no mesmo sítio que nós nesse dia.
A segunda metade da etapa era quase sempre em subida, atravessa-se um bosque e o caminho passa nas ruínas romanas de Caparra. O piso também tem muita areia e há zonas em que se torna difícil pedalar.
A parte final é uma subida com muita pedra e o Jacky furou. Chegámos a Aldeanueva del Camino e ficámos num hotel rural, onde também jantámos.
 Extremadura espanhola.
 Galisteo
Arco romano de Caparra.

18 de Setembro: Mérida - Cáceres, 74 km

Depois dos acontecimentos da véspera, esperava-nos um dia tranquilo. Saímos de Mérida com tempo nublado e a etapa não tem muito que contar. Atravessa pequenas localidades quase desertas nesse sábado de manhã e, em termos técnicos, a maior dificuldade é o piso com muita areia. O caminho discorre pela antiga estrada romana que ligava Mérida a Astorga e há vários marcos miliares e pontes romanas no trajecto.
Como curiosidade, o caminho atravessa a pista dum pequeno aeródromo, já perto de Cáceres.
Chegámos às 15:30, ainda a tempo de almoçar e com o calor já a apertar. Cáceres é uma cidade que merece uma visita e nós felizmente tivemos algum tempo para visitar o centro histórico da cidade, acabando a noite a jantar numa esplanada, com tapas e cañas.
 Aqueduto romano em Mérida.
 Barragem romana com quase dois mil anos.
 Ao lado havia um lar de idosos!!


17 de Setembro: Monesterio - Mérida, 109 km

Esta etapa tinha tudo para ser uma das mais fáceis da travessia: 109 quilómetros com um acumulado de apenas 950 metros. Mas condições atmosféricas adversas transformaram a manhã num pesadelo.
Saímos de Monesterio avisados que poderia chover, apesar do sol estar a brilhar quando arrancámos. Os primeiros vinte quilómetros eram em ligeira descida, sem dificuldade aparente. O céu escureceu e começou a chover e a trovejar. Todo o caminho atravessava campos sem árvores nem qualquer tipo de abrigo. Os relâmpagos caíam à nossa volta e o ponto mais elevado éramos nós nas nossas bicicletas. Rápidamente o caminho foi-se tornando num riacho e começámos a ter dificuldade em progredir. Já perto de Fuente de Cantos fomos obrigados a parar porque o caminho estava intransitável, com água pelos joelhos e uma corrente fortíssima. Subimos para uma pequena elevação, mas a água também ia subindo e começámos a ver que tínhamos de sair dali o mais depressa possível. Tentámos várias hipóteses, mas a água tem uma força incrível e começámos a recear ser arrastados pela corrente, pois a água já nos chegava à cintura. Até que, numa das tentativas, o Josep Lluis ia à frente e perdeu o pé e foi arrastado junto com a bicicleta. Conseguiu agarrar-se a uns ramos mas teve de largar a bike, que foi com a enxurrada. Por sorte, uns 150 metros mais à frente, a bicicleta foi perdendo velocidade e conseguimos recuperá-la, enquanto o nosso amigo saía da água ainda a pensar o que lhe tinha acontecido. Simplesmente inacreditável.
Entretanto a chuva começou a abrandar e acabámos por descobrir uma saída, atravessando uma zona mais estreita com água por cima dos joelhos e as bikes às costas. Atravessámos um campo agrícola e atingimos a estrada, cobertos de lama, molhados da cabeça aos pés, mas aliviados por termos saído incólumes daquela situação.
Depois disto continuámos por estrada até Villafranca de los Barros, onde almoçámos. O tempo tinha melhorado e, após o almoço, retomámos o caminho: longas rectas entre vinhas até chegar a Mérida. Mas o dia não acabaria sem mais um percalço. Numa parte junto à estrada, um arame com um troço de madeira prendeu-se na minha roda dianteira, a bike estacou de imediato e eu saí de cabeça. Na queda ainda espetei o punho do guiador na barriga, ficando com o mesmo bem marcado, além duma negra enorme.
Em Mérida tivemos de lavar as máquinas devido ao lastimável estado em que se encontravam.
 Antes da tempestade: um caminho que parecia fácil.
 Caminho plano entre vinhas.

16 de Setembro: Sevilla - Monesterio, 102 km

Depois das atribulações para recuperar a minha bike, lá arrancámos para a Via da Prata. Tinha chovido durante a noite e o tempo estava agradável para pedalar. Os primeiros 25 quilómetros desta etapa são planos e a única surpresa foi termos passado por extensos campos de algodão, coisa que eu nunca imaginei que houvesse na Península Ibérica. Comecei a constatar aquilo que já supunha, que é a quase inexistência de pontos de água durante o percurso, o que nos obrigava a reabastecer nas localidades que íamos atravessando.
Durante a manhã tivemos duas subidas curtas mas difíceis e parámos para almoçar em Almadén de la Plata. O tempo tinha aquecido e nada fazia prever o que nos esperava nos últimos quilómetros. O céu foi-se cobrindo de nuvens escuras e, na subida para Monesterio, começou a chover e a trovejar, acompanhado dum vento muito forte. O meu azar foi que, durante o dia, tinha perdido o meu impermeável pelo caminho, devia estar mal preso e caiu sem que eu reparasse. Perante a tempestade crescente, optámos por concluir a etapa por estrada, mas o vento de frente impedia a progressão. Eu seguia na frente com o José Luis e acabámos por perder de vista os outros dois. A chuva engrossou e abrigámo-nos debaixo duma árvore na berma da estrada. Eu já estava completamente molhado e o corpo começou a arrefecer. Estivemos parados cerca de vinte minutos, até que a chuva abrandou e retomámos o andamento. Só então demos conta que estávamos apenas a três quilómetros do final da etapa, onde eu cheguei encharcado e com a moral em baixo, já quase de noite.



 Sevilha
 Água no caminho: algo muito raro no sul de Espanha.
Castelo em ruínas.